Busco acompanhar Rami Malek de perto, em novos trabalhos, muito pelo impacto que Mr. Robot teve sobre mim. Acredito que ele se encaixou perfeitamente como o protagonista Elliot Alderson e ajudou Mr. Robot a ser, de longe, minha série favorita.
Então, se há um personagem interpretado por Malek, em um novo filme, e esse sujeito é um expert em computação, nada mais fácil para minha mente criar a fanfic de que se trata de uma continuação direta da série.
Em Operação Vingança, o protagonista Charles Heller poderia sim ser um Elliot da vida, amaciado na terapia por 10 anos, com um novo nome, uma nova vida, ao lado de uma esposa e cultivando amizades no trabalho enquanto usa todas suas habilidades cibernéticas em prol do governo estadunidense.
Devaneios à parte, seguimos.
Baseado no livro de Robert Littell, o filme apresenta um roteiro de alta qualidade, apesar do nome PT/BR de filme B (no original é The Amateur)1. Depois de sua esposa Sarah, interpretada por Rachel Brosnahan, ser assassinada por um grupo de terroristas, Charlie se utiliza de todo conhecimento que a vida de criptógrafo da CIA lhe permite, e consegue rastrear alguns dos responsáveis pelo ataque que resultou na morte dela. Então, ele decide ir atrás dos assassinos por conta própria e realizar sua vingança.
O primeiro ponto que faz tal enredo fugir do clichê, está no fato de Charlie não ter um padrão físico de agente que conseguiria enfrentar terroristas na porrada. Seu tipo franzino condiz com o nerd de computadores que é. Portanto, ele assumir o posto de herói de ação nos traz, ao menos, um senso de curiosidade.
Aliás, o fato de Malek também não ser um homem alto, loiro e branco, me faz criar empatia e proximidade maior com ele, para além da relação com Mr. Robot mencionada anteriormente.
Somada a uma variação de planos equilibrada que preza pelo storytelling, o roteiro de Operação Vingança acerta um pouco mais que filmes de espionagem em geral, principalmente por não subestimar a inteligência dos personagens que estão ao redor do protagonista.
Quando se quer apresentar um personagem excepcional, mais inteligente que todos os outros, isso consiste, geralmente, em diminuir a inteligência dos coadjuvantes. Muitas das vezes, essa diminuição se atribui até mesmo ao próprio sistema em que o protagonista está alocado. Nesse caso, seria os agentes da CIA. Entretanto, a inteligência de Charlie Heller é equiparada a de seus pares e, nessa busca de estar sempre um passo à frente, são os detalhes que lhe permitem tal proeza.
Heller acaba por chantagear seus líderes, através da possibilidade de vazar documentos comprometedores dos quais ele teve acesso, e exige ser treinado tal qual um agente de campo, para que adquirisse habilidades das quais não tem, mas que seriam essenciais para seu plano de vingança.
Enquanto Heller treina e seus pares tentam descobrir se ele falava a verdade ou não, Charlie não engana a CIA, porém, consegue atrasá-la. Ele é um sujeito excepcional, mas não subestima os demais, assim como o próprio roteiro.
Em determinado momento, depois do treinamento, ele vai mesmo atrás dos terroristas, enquanto a CIA vai atrás dele. Nessa dinâmica de caça e caçador, a montagem do filme se esbanja na estética de lettering sobre planos gerais, cenas em países variados, telas com linhas de programação, gravações de câmeras de segurança, etc.
A maior dificuldade que filmes de espionagem precisam lidar com histórias que acontecem no tempo presente, é decidir até onde vai a capacidade tecnológica, a ponto de não ser escassa e corroborar com a subestimação já citada dos coadjuvantes que beneficiaria o protagonista, ou não ser exagerada e parecer falsa (embora possa não ser), sendo uma espécie de Deus ex machina, também em benefício do protagonista.
Fato é que, apesar de não se tratar de um filme inesquecível ou revolucionário, o equilíbrio estabelecido na história e na parte técnica, faz de Operação Vingança um dos melhores exemplos atuais que o gênero tem a oferecer.
Nota: ⭐⭐⭐⭐ ½
Assisti a primeira adaptação dessa mesma história, no filme de 1981 com o mesmo título, que me fez pensar ser mais fidedigno (provavelmente, pois ainda não li o livro fonte) do que este, em termos de tecnologia/história, e o nome em 2025 pode ter apenas repetido a ideia lá de trás.