Meu pecado: Juliana Paes
Em 2004 eu vi a primeira Playboy da minha vida. Eu tinha 10 anos de idade.
Pause. Eu só viria a saber (e praticar 🫣) o que era masturbação três anos mais tarde. Play.
Eu fiquei maravilhado com aquilo. Era uma mistura de beleza e proibição. Era algo meio secreto, mas que eu contava pra todos amiguinhos. Era errado mas eu me sentia tão certo. Eu só tinha 10 anos.
Nessa época eu fazia catecismo e um evento importante se aproximava: a confissão para o padre antes da primeira comunhão.
Comecei a me questionar se ter visto revista de mulher pelada era pecado.
Fiquei apreensivo e um tanto envergonhado. Falar para os amigos que eu já tinha visto uma Playboy era tão legal, por que seria diferente para um PADRE? Eu só tinha 10 anos.
Na minha cabeça de criança, eu comecei a criar uma cena. Me imaginei confessando para o padre e dizendo sobre a Playboy, meio acanhado, e ele sorrindo de maneira solidária e me dizendo que não havia problema algum. Nessa imaginação, a conversa com ele ocorria num lugar particular, longe de qualquer pessoa.
Então, no dia, o padre chegou na igreja e sentou num dos últimos bancos, a poucos metros de todas as crianças que estavam lá na frente. Ninguém iria conseguir ouvir a confissão de ninguém, é verdade, era uma distância suficiente. Mas ali!? Sério!? Perto de todo mundo, eu ia mandar que um dos meus pecados era a Juliana Paes?
Enquanto algumas crianças iam e se confessavam, minha ansiedade crescia pois, antes, fomos informados de que se alguém mentisse ou escondesse pecados, a confissão não iria valer.
Uma justificativa fraca, afinal, o que é "não valer", exatamente? Mas, colocar isso para uma criança doutrinada pela igreja é um terrorismo psicológico. Já falei quantos anos tinha?
Enfim, minha vez. Enrolei e não contei. Minha vergonha era maior do que o medo de decepcionar Deus. Inventei um pecado ou outro, exagerei aqui e ali, tentando compensar a omissão da Playboy.
Dias mais tarde, conversando com meu amigo Alex, levantei a possibilidade de outro amiguinho, mais bagunceiro, ter sido omisso ao padre:
— Tenho certeza que ele não falou todos os pecados dele.
Internamente, eu gritava pra que o Alex me respondesse algo como "Eu também não confessei um pecado" ou "Eu também menti" etc. Eis que ele manda:
— Se ele fez isso, a confissão dele não vai valer.
Sorri amarelo, com um "é verdade" e percebi que eu tinha feito uma cagada.
A comunhão veio e eu participei, com um daqueles roupões brancos, parecendo um anjo. Não peguei fogo. Jesus não se materializou ali na minha frente, no altar, para me acusar de mentiroso na frente de todos. Correu tudo bem.
Hoje, quando olho pra trás, acho graça daquele Patrick de 10 anos pois, por causa dele, já sei qual poster o Diabo separou para mim, pra colar no meu cantinho do inferno.
Muito bom!! Essa semana eu estava escrevendo um texto exatamente sobre minha relação com a igreja e o quanto a experiência da comunhão foi um pouco traumático, seu texto calhou muito com o momento!