Baixinho
Desde pequeno, eu soube que era pequeno. Sempre fui o primeiro da fila. Inclusive, na formatura da quarta série, a diretora da escola (Tia Lelena, um amor de pessoa), que era quem estava chamando os alunos para subirem ao palco e pegarem o seu diploma, propositalmente, me deixou por último. E ela ainda disse “te deixei por último porque você sempre foi o primeiro da fila”. Não lembro se eu já havia reclamado, em algum momento, de sempre ser o primeiro da fila e, por isso, ela quis me agradar ou se ela, simplesmente, quis me dar uma perspectiva que nunca tive, em ser o último de alguma coisa. De toda maneira, não gostei de ter sido o último.
Terapias à parte, ser o primeiro ou o último de uma fila não ia fazer diferença, eu seria baixinho e o jovem Patrick já sabia disso.
Assim, eu comecei a buscar por famosos de baixa estatura, para me confortar de alguma maneira, afinal, se eles chegaram lá (seja lá aonde fosse), eu também poderia!
Acredito que isso começou quando eu li que Napoleão Bonaparte era baixinho. Coisa que foi sendo desmentida ao longo dos anos subsequentes e que, até hoje, eu não sei qual é o veredito… Mas, àquela altura (com perdão do trocadalho), Napoleão teria 1,65 para sempre, na minha cabeça.
1,65. É essa a minha altura.
E foi com esse mesmo número vertical que Charles Chaplin se tornou o maior ícone do cinema clássico. Que Roberto Bolaños divertiu muitas gerações com Chaves e Chapolin. Que Michael J. Fox se tornou um símbolo dos anos 80 com De Volta para o Futuro. Que Daniel Radcliffe deixou sua marca como Harry Potter. Que Bruno Mars gritou para o mundo que seria bilionário e foi. E que, com um ou dois centímetros a mais, Al Pacino fez o estrago que fez como Tony Montana em Scarface.
Talvez eu estivesse (salvo o bilionário) apenas buscando por atores? Ou talvez eu estivesse tentando me comparar a personalidades, mas não percebendo que o nosso em comum era o “defeito”? Talvez, mas a terapia eu já deixei parágrafos atrás.
Gregório Duvivier, meu amigo baixinho, foi quem conseguiu me trazer orgulho da estatura que Deus (aquele sacana) me deu. Foi com o Gregório que, de um jeito bem humorado, eu descobri que, além dele também buscar por ídolos baixinhos, a pequena altura é um traço de personalidade que, num contraste bonito, me permite sonhar mais alto e possibilita escrever crônicas engraçadinhas, por exemplo.
"...Deus (aquele sacana) me deu." aquele momento que o autor referencia o próprio autor (e tem um nome técnico isso, mas eu esqueci)